quarta-feira, 7 de outubro de 2009

CLONAGEM DE TEXTOS - Martha Medeiros

A internet aproxima amigos e divulga informação: só é nociva à medida que as pessoas são, elas próprias, nocivas. Infelizmente, uma destas nocividades tem se manifestado em forma de desrespeito ao direito autoral.

Circula pela internet um texto meu sobre saudade, chamado A dor que dói mais, publicada aqui no Almas Gêmeas e no meu livro Trem-Bala, assinado por Miguel Falabella, inclusive com uns enxertos vulgares, licença-poética que o "co-autor", seja quem for, se permitiu. Também andou circulando um texto meu chamado As razões que o amor desconhece, desta vez creditado a Roberto Freire. No Dia Internacional da Mulher, a apresentadora Olga Bongiovanni, da TV Bandeirantes, gentilmente leu no ar o meu texto O Mulherão, e em seguida o disponibilizou no site do programa, onde pude constatar alguns parágrafos adicionados por algum outro co-autor ávido por fazer sua singela contribuição. A produção corrigiu o erro assim que foi avisada. Quem controla isso?

Imagino que essa apropriação indevida venha lesando diversos outros cronistas, que por dever de ofício produzem textos diariamente, tornando-se inviável o registro de cada um deles. A fiscalização fica por conta do leitor, que, conhecendo o estilo do escritor, pode detectar sua autenticidade.

Não chega a ser um crime hediondo e também não é novo. Credita-se a Borges um texto sobre como ele viveria se pudesse nascer de novo, que os estudiosos da sua obra negam a autoria, e Garcia Marquez, pouco tempo atrás, teve que desmentir ser ele o autor de um manifesto meloso que andou circulando entre os internautas. Luis Fernando Verissimo também andou negando a autoria de um texto sobre drogas, que assinaram como se fosse dele. Todas as pessoas que escrevem estão e sempre estiveram vulneráveis a esses enganos, involuntários ou não, mas não há dúvida de que a internet, pela facilidade e rapidez de divulgação de e-mails, massificou a rapinagem.

Perde com isso, primeiramente, o autor, que vive de seu trabalho e que fica à mercê de ter suas palavras e pensamentos transferidos para outro nome ou adulterados: não são poucos os que acrescentam sua própria idéia ao texto e mantém o nome do autor verdadeiro, pouco se importando em corromper a legitimidade da obra. E perde também o leitor, que é enganado na sua crença e que poderá vir a passar por desinformado. Viva a internet, mas que os gatunos virtuais tratem de produzir eles mesmos suas próprias verdades.


O que acham do meu Naninha Cachorrinho?