terça-feira, 27 de outubro de 2009

DIÁRIO DE UM CÃO

1ª semana.

Hoje faz uma semana que nasci! Que alegria ter chegado a esse mundo!!!

1 mês.

A minha mãe cuida muito bem de mim. É uma mãe exemplar.

2 meses.

Hoje separaram-me da mãe. Ela estava muito inquieta e com seus olhos disse-me adeus como esperando que minha nova "família humana" cuidasse bem de mim, como ela havia feito.

4 meses.

Cresci muito rápido, tudo chama a minha atenção. Há várias crianças na casa que são como meus "irmãozinhos".

5 meses.

Hoje castigaram-me. A minha dona zangou-se porque fiz "xixi" dentro da casa... mas nunca me disseram onde eu deveria fazer. E como eu durmo na marquise eu não me aguentei!!!

6 meses.

Sou um cão feliz. Tenho o calor de um lar, sinto-me seguro e protegido... Creio que minha família humana me ama muito... Quando estão comendo me convidam, o pátio é somente para mim e eu estou sempre a fazer buracos na terra, como os meus antepassados lobos, quando escondiam a comida. Nunca me educam, seguramente porque nada faço de errado.

12 meses.

Hoje completei um ano. Sou um cão adulto e meus donos dizem que cresci mais do que eles esperavam. Que orgulhosos devem estar de mim!!!

13 meses.

Como me senti mal hoje... O meu "irmãozinho" tirou a minha bola. Como nunca toco nos seus brinquedos fui atrás dele e mordi-o. Mas como os meus dentes estão muito fortes, magoei-o sem querer. Depois do susto prenderam -me e quase não posso me mover para tomar um pouco de sol. Dizem que sou ingrato e que vão me deixar em observação (certamente não me vacinaram!)... não entendo nada do que está a acontecer.

15 meses.

Tudo mudou... vivo preso no pátio... na corrente... sinto-me muito só... a minha família já não me quer. Às vezes esquecem-se que tenho fome e sede e quando chove não tenho tecto que me cubra...

16 meses.

Hoje tiraram-me da corrente. Pensei que me tinham perdoado... Fiquei tão contente que dava saltos de alegria e meu rabo não parava de abanar. Parece que vou passear com eles. Entramos no carro, e andamos um grande pedaço. Quando pararam, abriram a porta e eu desci a correr, feliz, crendo que era dia de passeio no campo. Não entendo porque fecharam a porta e se foram embora... "Esperem"!!! - lati... "esqueceram-se de mim...!!!". Corri atrás do carro com todas as minhas forças... a minha angústia aumentou ao perceber que o carro se afastava e eles não paravam. Tinham-me abandonado...

17 meses.

Procurei, em vão, achar o caminho de volta à casa. Sento-me no caminho, estou perdido e algumas pessoas de bom coração que me olham com tristeza e me dão algo de comer... Eu agradeço com um olhar do fundo de minha alma... quisera que me adotassem, eu seria leal como ninguém. Porém eles apenas dizem "pobre cãozinho, deve estar perdido".

18 meses.

Outro dia passei por uma escola e vi muitas crianças e jovens como os meus "irmãozinhos". Cheguei perto deles e um grupo, aos risos, atirou-me uma chuva de pedras "para ver quem tinha melhor pontaria"... uma dessas pedras atingiu um dos meus olhos e desde então não vejo com ele.

19 meses.

Parece mentira mas quando eu estava mais bonito as pessoas compadeciam-se mais de mim... Agora que estou muito fraco, com um aspecto bem mudado... perdi o meu olho, as pessoas tratam-me aos pontapés quando pretendo deitar-me na sombra...

20 meses.

Quase não posso me mover. Hoje, ao atravessar a rua por onde passam os carros, um deles me atropelou. Pelo que sei, estava num lugar seguro chamado "sarjeta", mas nunca vou me esquecer do olhar de satisfação do motorista ao fazê-lo. Oxalá me tivesse matado... porém só me partiu as pernas. A dor é terrível, minhas patas traseiras não me respondem e com dificuldade arrastei-me até uma moita de ervas fora da estrada...
Já faz 10 dias que estou em baixo de sol, chuva e frio, sem comer. Não me posso mover, a dor é insuportável, nunca me abandona. Sinto-me muito mal, estou num lugar úmido e parece que o meu pelo está a cair. Algumas pessoas passam e não me vêem; outras dizem: "não te aproximes".
Já estou quase inconsciente, porém uma força estranha me fez abrir os olhos. A doçura da sua voz fez-me reagir. "Pobre cãozinho, como te deixaram", dizia... junto a ela estava um senhor de roupa branca que começou a tocar-me e disse: "Sinto muito senhora, mas esse cão já não tem remédio, o melhor é que deixe de sofrer." A gentil senhora consentiu, com os olhos cheios de lágrimas. Como pude, mexi o rabo e olhei para ela, agradecendo por me ajudar a descansar... Senti somente a picada da injecção e dormi para sempre, pensando em porque nasci, se ninguém me queria...


A solução não é deixar um cão na rua, mas sim educá-lo.
Não convertas em problema uma grata companhia.

O que acham do meu Naninha Cachorrinho?