terça-feira, 23 de novembro de 2010

Saudade e esperança

Tudo começou num dia claro de primavera, quando a brisa fresca da manhã espalhava suave perfume de flores no ar.

Voltei da maternidade carregando nos braços aquele pequeno tesouro com que Deus me havia presenteado.

Vê-lo crescer e observar cada gracinha da sua meiguice, era a maior felicidade que uma mãe pode esperar.

Os meses se somaram e se transformaram em anos...

E aqueles dois olhos azuis pareciam duas pedras preciosas engastadas num rosto angelical, observando tudo com atenção e vivacidade.

À medida que o tempo passava, mais se apertavam os laços do afeto... Mais se solidificava o amor...

Os meses pareciam horas, embalados pelos risos e a algazarra daquele ser singular.

Todavia, a vida nos reserva emoções das quais nem suspeitamos...

Era uma tarde de verão e o vento morno soprava, espalhando no ar um estranho sentimento de tristeza.

O pequeno se queixou de dor de cabeça e em meu coração senti profundo amargor...

O médico diagnosticou câncer...

Tive a sensação de que o chão havia sumido de sob os meus pés. Um aperto no coração me tomou de assalto e eu perdi os sentidos.

Voltando à realidade, muni-me de coragem para enfrentar a situação daquele momento amargo.

Ele estava ali, numa súplica silenciosa para que eu o ajudasse. E foi o que eu fiz, com a ajuda de Deus.

Os tratamentos eram cruéis...

As horas pareciam anos, arrastados pelos gemidos de dor...

Aqueles dois olhos perdiam o brilho a cada segundo...

E, por fim, a vida se extinguiu como uma chama que se apaga...

...era um dia de inverno e o vento soprava sem piedade... Trazendo consigo o manto escuro da morte...

Naquela tarde eu depositei seu corpinho imóvel na laje fria do túmulo...

De braços vazios e coração dilacerado, tive vontade de agarrar-me ao pequeno esquife para não deixá-lo sozinho, mas uma força estranha me conteve...

Lembrei que muitas mães já haviam partido para o Além e roguei para que elas amparassem meu anjinho...

Lembrei-me também que há muitos pequeninos órfãos deste lado da vida e fui ao encontro deles para preencher o vazio da minha alma...

Achei-os relegados à própria sorte e os envolvi em meus braços... Amei-os como se meus filhos fossem...

Os anos rolaram... A saudade se transformou em esperança...

Esperança de reencontrar aquele anjo que Deus me emprestou para valorizar meus dias e abrir em meu coração espaço para um sentimento maior, capaz de amar em cada filho alheio, meu próprio filho.

Essa é a minha mensagem de amor e esperança para todas as mães que já sentiram o amargo sabor da separação...

O que acham do meu Naninha Cachorrinho?