quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A vontade dirigida

O psiquiatra recebeu em seu consultório um paciente com depressão aguda.
Segundo a família, ele estava naquele estado há mais de 5 anos e já havia tentado suicídio várias vezes.
Agora estava ali, diante do médico, em busca de um remédio que o curasse de forma instantânea.
O médico, acostumado a todo tipo de paciente, olhou-o no rosto e falou com firmeza: “Tenho duas notícias para lhe dar. Uma delas é que ainda não existe um remédio para a sua doença.”
O paciente contorceu-se na cadeira, e perguntou um tanto irritado: “e a outra notícia?”
“Bem, a outra notícia é que a sua cura depende da sua vontade”.
“Como assim, Doutor? Eu não tenho vontade para nada. Não tenho vontade de trabalhar, nem de comer, nem de falar com pessoas. A vida não tem mais sentido para mim.”
O psiquiatra, que o observava com atenção, lhe falou com voz muito firme: “você está cheio de vontade.”
Aí o paciente não se conteve, deu um murro sobre a mesa e retrucou nervoso: “o senhor está brincando comigo? Eu já lhe disse que não tenho vontade, Doutor.”
Sem se alterar, o médico voltou a afirmar: “o senhor tem muita vontade, sim. Tem vontade de não trabalhar, de não comer, de dormir, de não falar com ninguém, e vontade de se isolar do mundo.”
“Mas a vida não tem sentido para mim”. Tornou a dizer o paciente.
O médico, conhecedor das causas que levam a pessoa a esse estado de ânimo, disse-lhe: “você está é com raiva do mundo e por isso deseja matar-se, para punir aqueles que o infelicitaram e que não consegue perdoar.”
Nesse momento o homem quase teve um surto. Levantou-se e gritou, enlouquecido: “Eu nunca vou perdoá-los! Meu patrão me despediu, acabou com a minha vida, meus irmãos me roubaram a herança e...”
E desfilou uma lista de nomes de pessoas que odiava com toda força de seu ser.
Então o psiquiatra voltou a dizer: “somente quando você perdoar conseguirá se livrar desse ácido que o corrói e o está matando, dia após dia.”
E aquele homem enorme, falou entre dentes: “eu nunca vou perdoá-los”.
O médico aproveitou a oportunidade para reafirmar ao seu paciente que ele estava cheio de vontade, mas dirigida para a própria infelicidade.

Vale a pena meditar sobre a direção que estamos dando a nossa vontade.
Até quando dizemos que não temos vontade, estamos usando nossa vontade para não sentir vontade.
Se dizemos que não sentimos vontade de viver, podemos afirmar que, na verdade, estamos com vontade de não viver.
Estamos com vontade de fugir do mundo, com vontade de dormir, de ficar num quarto fechado, com vontade de morrer...
Mas a vontade está ativa. Somente está sendo dirigida para onde nossa razão desejar.
Se você ainda não havia pensado por esse ângulo, pense agora.
Lembre-se de que a vontade é uma força neutra que existe em nós, capaz de definir nossas ações. Basta que saibamos dirigir essa força de acordo com nossa escolha.
Se escolhemos ter vontade de morrer, podemos direcionar essa força para a vontade de viver. A força não se altera, mas alteramos a direção.
Se escolhemos ter vontade firme de não perdoar, de manter o desejo de vingança, podemos dirigir essa força para a indulgência, para o perdão.
O que geralmente acontece, é que sentimos prazer mantendo esse estado de coisas. Sentimos prazer em chamar a atenção dos outros, fazendo-nos de vítimas.
Essa autopiedade é extremamente perigosa, pois pode nos levar a situações de maior infelicidade ainda.
Por todas essas razões, vale a pena direcionar a nossa vontade com lucidez.
Com o desejo sincero de construir a nossa felicidade efetiva, sem o prazer mórbido de infelicitar aqueles que nos infelicitam.
Pense nisso, mas pense agora.

O que acham do meu Naninha Cachorrinho?