quinta-feira, 25 de agosto de 2011

O Bosque

Eu era vizinho de um médico, cujo hobby era plantar árvores
no enorme quintal de sua casa.

Às vezes eu observava da minha janela o seu esforço para plantar
árvores e mais árvores, todos os dias.

O que mais chamava a atenção, entretanto, era o fato de que ele
jamais regava as mudas que plantava.

Passei a notar, depois de algum tempo, que suas árvores estavam
demorando muito para crescer.

Certo dia resolvi aproximar-me e perguntar-lhe se não tinha receio
de que as árvores não crescessem, pois que ele nunca as regava.

Foi quando, com ar orgulhoso, descreveu-me sua teoria.

Disse-me que, se regasse suas plantas, as raízes se acomodariam
na superfície e ficariam sempre esperando pela água mais fácil,
vinda de cima.

Como ele não as regava, as árvores demorariam mais para crescer,
mas suas raízes tenderiam a migrar para o fundo, em busca da água
e dos vários nutrientes encontrados nas camadas inferiores do solo.

Assim, segundo ele, com raízes mais profundas, as árvores seriam mais
resistentes às intempéries.

Disse-me ainda que freqüentemente dava uma palmadinha nas suas árvores
com um jornal enrolado, e que o fazia para que elas se mantivessem sempre
acordadas e atentas.

Essa foi a única conversa que tive com aquele vizinho.
Logo depois fui morar em outro país e nunca mais o encontrei.

Anos depois, ao retornar do exterior, fui dar uma olhada na minha antiga
residência.
Ao aproximar-me, notei um bosque que não havia antes.
Meu antigo vizinho havia realizado seu sonho!

O curioso é que aquele era um dia de um vento muito forte e gelado, em que as árvores
da rua estavam arqueadas, como se não estivessem resistindo ao rigor do inverno,
mas, ao aproximar-me do quintal do médico, notei como estavam sólidas as árvores
do vizinho praticamente não se moviam, resistindo implacavelmente à ventania toda.

Que curioso, pensei eu…
As adversidades pela qual aquelas árvores tinham passado, levando palmadelas
e tendo sido privadas de água, pareciam tê-las beneficiado de um modo que o
conforto e o tratamento mais fácil jamais conseguiriam.

Todas as noites, antes de eu ir me deitar, dou uma olhada em meus filhos.
Debruço-me sobre suas camas e oro por eles, na maioria das vezes pedindo
que suas vidas sejam fáceis.
Tenho pensado, entretanto, que é hora de alterar minhas orações…

Essa mudança tem a ver com o fato de que é inevitável que ventos fortes e gelados
atinjam a nós e aos nossos filhos.

Sei que eles encontrarão inúmeros problemas e que, portanto, minhas orações
têm sido ingênuas demais.

Pois sempre haverá uma tempestade ocorrendo em algum lugar.

Ao contrário do que tenho feito, passarei a orar para que meus filhos cresçam com
raízes profundas, de tal forma que possam retirar energia das melhores fontes,
das mais divinas, que se encontram nos locais mais remotos.

Oramos por facilidades, mas o que precisamos é pedir para desenvolver
raízes fortes e profundas, de tal modo que, quando as dores chegarem,
resistamos bravamente ao invés de sermos subjugados.

A alegria não educa ninguém.

O que acham do meu Naninha Cachorrinho?