sábado, 28 de abril de 2012

Orvalho versus bodas de prata



Era uma fria manhã de inverno. Acordei cedo. Olhei pela janela. Até onde os meus olhos viam, o gramado do jardim estava branco, como se um fino véu de tule tivesse sido jogado sobre ele. As flores, arbustos, árvores, tudo estava coberto maciamente com o trançado tênue do branco leve que os cobria... Deu-me um sentimento, a princípio, de desolação, deserto, ausência de cores e de calor. Mas, reparando melhor naquela cena tão incomum aos meus olhos, fui sendo conquistada pela beleza quieta, mística, encantadora daquele momento. Saí pelo jardim, deslumbrada. Agora, os raios primeiros do sol apareciam e, alcançando as gotículas do orvalho, faziam com que brilhassem tão intensamente que me lembravam diamantes lapidados. Os minutos passavam... Até céleres demais para minha alma embevecida. Eu queria segurar com o meu olhar extasiado aqueles momentos de orvalho sobre a relva. Mas... horas depois, todo ele se dissolvera, baixara à terra e fecundara o solo! As raízes se embeberam nele, regozijaram no suprimento da água que careciam e retribuíram aos céus, encorajadas, floridas, coloridas, ao meio-dia! 

Era inverno, mas a seca não poderia estragar estas felizardas que desfrutavam do orvalho da manhã! 

Recolhi-me. Numa adoração muda, meu coração meditava. Quanto benefício trazia à terra a presença do orvalho! O orvalho é a garantia de colheita abundante de cereal e de vinho. É também motivo de floradas macias e alvas como as do lírio, e raízes fortes e profundas como as do cedro do Líbano. Que poder vivificador e renovador está no orvalho que desce dos céus! 

Então, querido esposo, lembrei-me dos nossos cabelos brancos, como o tule de orvalho sobre o jardim... O véu delicado dos anos que se passaram, enquanto estamos lado a lado, como marido e mulher. Podemos nos alegrar ao reconhecer os benefícios que os cabelos brancos nos trazem, à semelhança do orvalho sobre a terra: dessedenta a terra deserta e assolada e faz crescer a vegetação. Quando tudo ao nosso redor parece desolador, há amor maduro em nossos corações, que nos permite produzir flores como os lírios, raízes como o cedro, abundância de trigo e de mosto! Não há fome, não há deserto, não há fadiga. Há comunhão perfeita no olhar, no pensar, no resolver, no amar! E como o sol fez brilhar o orvalho do jardim, vi a sua cabeleira, querido, brilhar como a PRATA! Cintilou nos seus fios resistentes e alvos o toque da graça do Eterno que nos encheu de amor, um pelo outro... Baixei meus olhos, encabulados pelo brilho do seu amor por mim. Indefinidamente, descansei meu olhar sobre minhas mãos. Pareceu-me que ia me aborrecer e amuar, pelas manchinhas marrons que teimavam em se instalar no dorso delas... Mas, repentinamente, a prata dos seus cabelos desceu sobre o meu dedo anular esquerdo e recobriu, caprichosamente, a nossa aliança de casamento! As bodas chegaram! 

 por LEILA MOTTA SILVA.

O que acham do meu Naninha Cachorrinho?