segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Solilóquio, uma conversa no espelho



A marca distintiva da sociedade contemporânea é a superficialidade. 

Somos rasos em nossas avaliações. 

Falta-nos reflexão. 

Falta-nos introspeção. 

Estamos atarefados demais e cansados demais para examinarmo-nos 

a nós mesmos. 




Corremos atrás de coisas e perdemos relacionamentos. 

Sacrificamos no altar das coisas urgentes, as coisas 

que de fato são importantes. 




Como muito bem afirmou George Carlin, num artigo sobre o paradoxo do nosso tempo: 




“Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos valores. 

Falamos demais, amamos raramente e odiamos frequentemente. 

Aprendemos a sobreviver, mas não a viver; adicionamos anos à nossa vida 

e não vida aos nossos anos. 




Fomos e voltamos à lua, mas temos dificuldade de cruzar a rua e encontrar um novo vizinho. 

Conquistamos o espaço sideral, mas não o nosso próprio espaço. 

Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores. 




Limpamos o ar, mas poluímos a alma; dominamos o átomo, mas não nosso preconceito. 

Construímos mais computadores para armazenar mais informação, mas nos comunicamos 

cada vez menos. 

Estamos na era do fast-food e da digestão lenta; do homem grande de caráter pequeno; 

lucros acentuados e relações vazias. 

Essa é a era de dois empregos, vários divórcios, casas chiques e lares despedaçados”. 




Solilóquio é conversar consigo mesmo. 




É olhar nos olhos daquele que vemos no espelho e enfrentá-lo sem subterfúgios. 

É entrar pelos corredores da alma e não escapar pelas vielas laterais. 

É lidar com o nosso mais difícil interlocutor. 

É falar com o nosso mais exigente ouvinte. 




A introspecção, porém, é uma viagem difícil de fazer. 

Olhar para dentro é mais difícil do que olhar para fora. 

É mais fácil falar para uma multidão do que conversar com a nossa própria alma. 

É mais fácil exortar os outros do que corrigir a nós mesmo. 

É mais fácil consolar os aflitos, do que encorajar-nos a nós mesmos. 

É mais fácil subir ao palco e pregar para um vasto auditório do que conversar 

com aquele que vemos diante do espelho. 




O salmista, certa feita, estava muito triste e percebeu que precisava endereçar 

sua voz não para fora, mas para dentro. 

Então disse: “Por que estás abatida ó minha alma? 

Por que te perturbas dentro de mim? 

Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu” (Sl 42.11). 




É preciso dizer à nossa alma que a tristeza não vai durar para sempre. 

Devemos levantar nossos olhos e saber que Deus está no controle da situação, 

ainda que agora isso não seja percebido pelos nossos sentidos. 

Devemos proclamar, em alto e bom som para nós mesmos, que o louvor 

e não o gemido; a alegria e não o choro é que nos esperam pela frente. 




Não nos alarmemos com nossas angústias; consolemo-nos com as promessas de Deus. 




Não basta reflexão, é preciso introspecção. 

Não basta falarmos aos outros, precisamos falar a nós mesmos.

Não basta lançarmos mão do diálogo, precisamos de solilóquio. 




O salmista, disse certa feita: “Volta minha alma ao teu sossego, 

pois o Senhor tem sido generoso para contigo” (Sl 116.7). 




Muitas vezes, ficamos desassossegados, quando deveríamos estar em paz. 

Curtimos uma grande dor na alma, quando deveríamos estar experimentando 

um bendito refrigério. 

E por que? 

Porque deixamos de pregar para nós mesmos. 

Deixamos de exortar nossa própria alma. 

Deixamos de fazer viagens rumo ao nosso interior. 

Deixamos de conversar diante do espelho. 

Deixamos o solilóquio. 




É preciso alertar, entretanto, que o solilóquio só é saudável, 

quando estamos na presença de Deus, quando nossa esperança está em Deus, 

quando encontramos em Deus nosso refúgio e fortaleza, 

quando podemos dizer como o salmista:




“Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu”.




Hernandes Dias Lopes

O que acham do meu Naninha Cachorrinho?