domingo, 17 de março de 2013

"A morte do telefone?" - Mário Prata

Quando surgiu a televisão, disseram que o rádio ia morrer. Não morreu. Quando surgiu a Internet, constou que o livro ia morrer. Tá vivo.

Por outro lado, sempre me intrigou o fato dos grandes provedores da rede no mundo serem de companhias telefônicas. Deveria ter uma jogada, ali. Primeiro, a óbvia: enquanto você está conectado, você está usando uma linha telefônica. Ponto para eles. Mas no último domingo, me caiu a ficha completa.

Estava eu conversando com uma amiga que está trabalhando em Londres. Conversando pela internet. No Messenger. Para quem não sabe, o Messenger te dá a oportunidade de digitar aqui, ela recebe lá na mesma hora, responde e por aí vai. Uma espécie de e-mail instantâneo.

Mas agora, com o Messenger 6.1, você pode usar uma webcam (tem até por oitenta reais, em qualquer lugar) e, tendo uma placa de som (mais simples ainda), você inicia uma videoconferência. Ou seja, nem precisa mais digitar.Você vê e ouve a pessoa. Você aqui e ela lá em Londres. Um telefone ao vivo!

E quando você está pagando por este telefonema ao vivo e internacional? Nada, se você tiver internet a cabo. Oumelhor, você paga uma mensalidade fixa. Só que pode ficar conversando 24 horas por dia e não paga nem um tostãoa mais.

Pois estava eu ali, conversando com a Luciana e comecei a pensar no D. Pedro II e no Graham Bell. Quando o inventor mostrou a descoberta ao amigo e rei do Brasil, este disse: isso fala? E deve ter pensado: não tem mais nada para se inventar. Pouco mais de cem anos depois, terá o telefone ficado obsoleto? Acho que é a tendência.

Claro que o papo pelo Messenger ainda é meio precário. A imagem que vemos da outra pessoa ainda é do tamanho de uma caixa de fósforo. Mas será por pouco tempo. Logo-logo, vamos ter a pessoa na tela cheia. Ao vivo e a cores. E, mais um pouco, pelo próprio celular (que será mais um micro computador do que apenas um telefone) você vai conseguir a mesma coisa.

Eu estou dizendo isto tudo, mas acho que a cultura do telefone é muito grande para ele ir desaparecendo assim de uma década para a outra. O telefone discado ou digitado faz parte da nossa vida, dos nossos amores e dos nossos negócios. E o celular, que tanto galho quebra, ainda é um baby. Crescerá, ficará adolescente? Sei lá.

*

Agora veja a coincidência. Tenho que mandar esta crônica até uma da tarde. E acabo de descobrir que o Terra, o meu provedor, está fora do ar aqui em Florianópolis. E eu não tenho fax normal, porque sou metido a moderno. Só pelo computador. Ou eu vou ter que imprimir isso aqui e sair atrás de um fax de algum vizinho, ou vou ter que passar pelo... telefone! Verdade. Agora nada mais importa. Nem outlook, nem messenger, nem fax pela internet. Estou mesmo ilhado.

Vou ligar para o Estadão: querer ser muito moderninho dá nisso.

Me desculpe, meu grande Alexander Graham Bell, me desculpe. Não vai dar nem para terminar a crônica. Vou ter que sair agora atrás do velho e bom fax pelo telefone. Ou ditar para o pessoal do Caderno 2.

Espero que tenha chegado tudo direitinho aí.

O que acham do meu Naninha Cachorrinho?