Lembro de todo mundo que conheci. Só não sei de onde. Nem faço idéia do nome. É grave. Outro dia eu estava no shopping. Um senhor gordo aproximou-se. Cumprimentou. Meus neurônios estalaram. Pip! Pip! Sorri, para ganhar tempo. Ele torceu o nariz:
– Sou seu primo! Esqueceu?
Devolvi um sorriso constrangido.
Morro de medo de ir a festas. Volta e meia passo pelo vexame. Já cometi o desatino de conhecer uma senhora de tarde, bater papo, encontrá-la por acaso de noite e não saber quem era! Ultimamente, tenho usado um truque. Abro um enorme sorriso:
– Claro que não a reconheci. Está mais magra... Diferente... Mais jovem!
Lá vem um sorriso de felicidade. Ainda mais se a elogiada continua redonda como um barril! O pior é que, de fato, as pessoas mudam muito. Fazem plástica. Regimes. Academia. Tingem os cabelos. Trocam a cor dos olhos. É a tragédia! Ao entrar em um restaurante, encontrei uma atriz. Abraçou-me, com intimidade. Fiquei em dúvida. Trocar nome de atriz é conquistar uma inimiga para o resto da vida. Puxei assunto.
– Como vai a vida?
Pergunta perfeita. Poderia responder sobre filhos, maridos... Veio com essa:
– Não tão bem como a sua.
Ih! Felizmente continuou:
– Não nos vemos pessoalmente há muito tempo. A última vez foi quando eu tinha uns 30 anos. Eu morava...
Observei o rosto esticado na penumbra do restaurante. "Ah, é ela!" Cinqüentona! Exclamei, maravilhado:
–Você continua com 30 anos!
Diante dos gemidos de emoção, fugi para minha mesa. Homens também se tratam. Se as mulheres já não gostam de revelar suas artimanhas, imaginem os machões. Fico olhando, olhando e pensando: "Não, não pode ser, tinha orelhas de abano". Dito e feito. O ex-orelhudo magoa-se quando, ao me cumprimentar, faço cara de paisagem.
Às vezes é surpreendente! Encontro alguém que não vejo há décadas. Imediatamente sei o nome, filiação, atividade! Como se a ficha saltasse do meu cérebro.
– Sua mãe, como vai? Ainda faz aquelas lindas blusas de tricô?
Os olhos se enchem de lágrimas.
– Você se lembra!
Seria de pensar que me recordo de pessoas especiais. Não é uma memória seletiva. Esqueço velhos amigos do peito, amores... e me lembro de alguém com quem falei uma ou duas vezes! Pior: chego a pensar que conheço pessoas totalmente estranhas. Já passei por cada situação!
– Oi, tudo bem?
O outro se espanta. Franze o cenho, acha que a gafe é dele.
– É... E... Como vai?
– Vou indo... E você?
Acabamos nos despedindo como velhos amigos, sem a menor idéia de quem seja quem!
Antes, tentava a sinceridade. Dizia, simplesmente:
– Desculpe, mas qual o seu nome?
Pensava ser uma bela atitude, honesta. Coisa nenhuma. As pessoas se horrorizavam.
– Na época em que o ajudava a trocar o pneu daquele Fusquinha velho, você me conhecia muito bem!
Atualmente, procuro pistas. Diante do sorriso, animado, tento.
– Você aqui! Que bom! Puxa! E sua mulher, como vai?
– A gente se separou, você já sabia!
Lá vou eu, rodopiando nas palavras! Quando a pessoa se despede, desabrocha a recordação! Morria de vontade de encontrar com ela, reviver a amizade! Tenho vontade de sair correndo e gritar:
– Agora sei quem você é!
Mas é tarde. Ah, que vida! Seria tão mais fácil se pudesse dizer:
– Não é nada pessoal. Mas... Qual o seu nome?
E o velho conhecido responderia com um sorriso de compreensão:
– A memória anda péssima. Mas a amizade continua a mesma!
– Sou seu primo! Esqueceu?
Devolvi um sorriso constrangido.
Morro de medo de ir a festas. Volta e meia passo pelo vexame. Já cometi o desatino de conhecer uma senhora de tarde, bater papo, encontrá-la por acaso de noite e não saber quem era! Ultimamente, tenho usado um truque. Abro um enorme sorriso:
– Claro que não a reconheci. Está mais magra... Diferente... Mais jovem!
Lá vem um sorriso de felicidade. Ainda mais se a elogiada continua redonda como um barril! O pior é que, de fato, as pessoas mudam muito. Fazem plástica. Regimes. Academia. Tingem os cabelos. Trocam a cor dos olhos. É a tragédia! Ao entrar em um restaurante, encontrei uma atriz. Abraçou-me, com intimidade. Fiquei em dúvida. Trocar nome de atriz é conquistar uma inimiga para o resto da vida. Puxei assunto.
– Como vai a vida?
Pergunta perfeita. Poderia responder sobre filhos, maridos... Veio com essa:
– Não tão bem como a sua.
Ih! Felizmente continuou:
– Não nos vemos pessoalmente há muito tempo. A última vez foi quando eu tinha uns 30 anos. Eu morava...
Observei o rosto esticado na penumbra do restaurante. "Ah, é ela!" Cinqüentona! Exclamei, maravilhado:
–Você continua com 30 anos!
Diante dos gemidos de emoção, fugi para minha mesa. Homens também se tratam. Se as mulheres já não gostam de revelar suas artimanhas, imaginem os machões. Fico olhando, olhando e pensando: "Não, não pode ser, tinha orelhas de abano". Dito e feito. O ex-orelhudo magoa-se quando, ao me cumprimentar, faço cara de paisagem.
Às vezes é surpreendente! Encontro alguém que não vejo há décadas. Imediatamente sei o nome, filiação, atividade! Como se a ficha saltasse do meu cérebro.
– Sua mãe, como vai? Ainda faz aquelas lindas blusas de tricô?
Os olhos se enchem de lágrimas.
– Você se lembra!
Seria de pensar que me recordo de pessoas especiais. Não é uma memória seletiva. Esqueço velhos amigos do peito, amores... e me lembro de alguém com quem falei uma ou duas vezes! Pior: chego a pensar que conheço pessoas totalmente estranhas. Já passei por cada situação!
– Oi, tudo bem?
O outro se espanta. Franze o cenho, acha que a gafe é dele.
– É... E... Como vai?
– Vou indo... E você?
Acabamos nos despedindo como velhos amigos, sem a menor idéia de quem seja quem!
Antes, tentava a sinceridade. Dizia, simplesmente:
– Desculpe, mas qual o seu nome?
Pensava ser uma bela atitude, honesta. Coisa nenhuma. As pessoas se horrorizavam.
– Na época em que o ajudava a trocar o pneu daquele Fusquinha velho, você me conhecia muito bem!
Atualmente, procuro pistas. Diante do sorriso, animado, tento.
– Você aqui! Que bom! Puxa! E sua mulher, como vai?
– A gente se separou, você já sabia!
Lá vou eu, rodopiando nas palavras! Quando a pessoa se despede, desabrocha a recordação! Morria de vontade de encontrar com ela, reviver a amizade! Tenho vontade de sair correndo e gritar:
– Agora sei quem você é!
Mas é tarde. Ah, que vida! Seria tão mais fácil se pudesse dizer:
– Não é nada pessoal. Mas... Qual o seu nome?
E o velho conhecido responderia com um sorriso de compreensão:
– A memória anda péssima. Mas a amizade continua a mesma!