quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O espelho

G.R. Tweed olhou pelas águas de Pacífico para o navio americano no horizonte. 
Limpando o suor de selva dos seus olhos, o jovem oficial naval engoliu profundamente 
e tomou sua decisão. 
Esta poderia ser a única chance dele para fugir.


Tweed estava se escondendo na ilha de Guam durante três anos. 
Quando o exército japonês ocupou a ilha em 1941, ele se escondeu no denso matagal tropical. 
Sobreviver não havia sido fácil, mas ele preferiu o pântano a um campo de prisioneiros de guerra.


Tarde naquele dia, 10 de julho de 1944, ele percebeu o navio aliado. 
Ele correu para cima de uma colina e se posicionou em um precipício. 
De dentro da sua mochila, ele tirou um espelho de mão. 
Às 18:20 ele começou a enviar sinais em código Morse. 

Segurando a extremidade do espelho nos dedos, ele o inclinou de um lado para outro, 
refletindo os raios do sol em direção ao barco. 
Três sinais curtos. Três longos. Três curtos novamente. Ponto-ponto-ponto. 
Traço-traço- traço. Ponto-ponto-ponto. S-O-S.


O sinal chamou a atenção de um marinheiro a bordo do USS McCall. 
Uma equipe de resgate embarcou num bote motorizado e passou despercebido na angra 
além do alcance das armas do litoral. 
Tweed foi salvo.


Ele estava feliz por ter aquele espelho; feliz porque soube usá-lo, e feliz porque o espelho cooperou. 

Suponha que não tivesse. (Prepare-se para um pensamento absurdo.) 
Suponha que o espelho tivesse resistido, empurrado sua própria agenda? 
Em lugar de refletir uma mensagem do sol, imagine se tivesse optado por enviar algo próprio? 
Afinal de contas, três anos de isolamento deixariam qualquer um faminto por atenção. 

Em lugar de enviar um S-O-S, o espelho poderia ter enviado um O-P-M “Olhe para mim.”
Um espelho egoísta?


O único pensamento mais absurdo seria um espelho inseguro. 
E se eu estragar tudo? 
E, se eu envio um traço quando devo enviar um ponto? 
Além disso, você já viu as manchas na minha superfície?
Duvidar de si mesmo poderia paralisar um espelho.


Da mesma forma seria auto-piedade. 
Enfiado naquela mochila, arrastado por selvas, e agora, de repente espera-se que eu enfrente 
o sol brilhante e execute um serviço crucial. 
De jeito nenhum. Fico no pacote. Não sai nenhuma reflexo de mim.
Ainda bem que o espelho de Tweed não teve uma mente própria.




E os espelhos de Deus? Infelizmente nós temos.

O que acham do meu Naninha Cachorrinho?