Um homem sentado ao lado do caixão daquela que fora sua companheira por muitos anos, olhava o corpo inerte com o coração amargurado e triste.
Mergulhado em pensamentos profundos, começou a perceber que em sua mente se desenhavam formas belas e brilhantes, leves e agradáveis que lhe traziam alento ao coração.
Diante de tanta beleza ousou perguntar quem eram aquelas formas.
Elas lhe responderam que eram as palavras que ele poderia ter dito à esposa.
Ah, fiquem comigo! - implorou o homem. Apesar de cortarem meu coração como um punhal, fiquem comigo, pois agora ela está fria e eu estou me sentindo tão sozinho.
Mas elas responderam com firmeza:
Não, não podemos ficar porque não temos existência. Somos apenas luz que nunca brilhou. E, dizendo isto, desapareceram de sua tela mental.
O homem continuou triste e pensativo. De repente, outras formas se lhe desenharam na consciência. Eram formas terríveis, amargas e sem vida.
Quem são vocês, formas horrendas? Perguntou ele espantado.
Nós somos as palavras que ela ouviu da sua boca a vida inteira.
O homem gritou estremecido: Saiam daqui, me deixem só!
Mas elas permaneceram ali, em silêncio, desenhando-se constantemente em sua memória.