segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Quando fomos adolescentes...



A estrada era longa. Uma simples reta. Lá estava a jovem aprendendo a dirigir, ao lado do pai de olhar sério e concentrado.

Na sua mocidade, ela sonhava com a carteira de habilitação, que lhe possibilitaria utilizar o carro do pai nos finais de semana.

De repente, a imagem que projetava se desfez. Uma curva apareceu do nada.

Apavorada, em vez de pisar na embreagem, apertou o freio.

O carro saiu derrapando e o motor morreu. Com um solavanco, o veículo parou.

No primeiro momento, ficaram mudos, ela e o pai. Uma nuvem de poeira entrou pela janela e Marina ficou vermelha, o coração aos sobressaltos, esperando pela reprimenda furiosa.

Em vez disso, o pai deu um suspiro profundo e sugeriu que ela ligasse de novo o motor.

Isso aconteceu há trinta anos. Hoje, Marina é mãe de três adolescentes. Enfrentando os problemas próprios desta fase de transição, se indaga o que é que fazia seu pai manter a calma, mesmo com os cinco filhos a rodeá-lo com questões e crises.

No dia em que saiu com o filho maior para lhe dar sua primeira aula de direção, mais do que nunca ela se recordou da paciência de seu pai.

O jovem entrou no carro, ligou o motor barulhento, ajeitou o espelho retrovisor, verificou seu penteado, ligou o rádio em sua estação favorita. Finalmente, engatou a marcha à ré e devagar, saiu da garagem.

Passou raspando pela caixa do correio e Marina gritou. Ele acelerou. Ela ficou tensa.

Buscando se expressar com calma, ela disse: Diminua nesta curva. Depois gritou outra vez.

No seu nervosismo, apertou um freio imaginário.

Ele ligou a seta, sinalizando para a direita, mas entrou à esquerda... pela contramão.

Marina falou com rispidez e um silêncio tumular se seguiu.

A mãe olhou para o filho. Ele segurava o volante com força e ia em frente.

Viu, mãe? Você só tem de me dar um pouco mais de tempo. É fácil e divertido dirigir.

A estrada agora era uma extensa reta. O filho sorriu e o seu rosto se iluminou ante a expectativa das novidades que se apresentariam.

Ela se sentiu envolver por uma onda de lembranças e recordou, tornando a se ver como a menina, no banco do motorista, trinta anos atrás.

Uma ideia brilhou dentro dela. Trinta anos antes, enquanto a poeira entrava no carro quase a sufocá-los, será que seu pai não se sentiu também transportado de volta aos dias de sua juventude?

Ela relaxou. Contemplou o pôr do sol, acariciou os cabelos do filho, radiante, vitorioso, e respirou fundo.

A terra brilhava ao entardecer do outono e a brisa da noite lhe trazia os aromas doces do campo.

O que acham do meu Naninha Cachorrinho?