Quando se vê uma mulher grávida, quase sempre se pergunta se ela já sabe se é menino ou menina.
E quando ela ainda não tem essa certeza, responde: "não importa o que seja, desde que seja perfeito, com saúde.”
Este é o anseio de todos os pais. Assim também aconteceu com aquele casal belga, na flor dos seus 20 anos.
Os filhos chegaram um a um, sadios. Tudo transcorria bem, até que sua caçula Stephanie, morreu, aos 3 meses, vítima da síndrome da morte súbita na infância.
Somente a fé cristã fortaleceu o mundo abalado daquela família. Nada poderia trazer de volta sua filha, mas eles se deram conta de quão preciosa era a vida de uma criança.
Tomaram uma resolução. Não foi nada de momento. Deixaram passar quatro anos e Christiane deu à luz mais um filho. Resolveram que podiam acolher em sua casa e amar uma criança que não tivesse família. Que não tivesse quem a amasse.
Ao se inscreverem no programa de adoção, seus nomes ficaram como os últimos de uma lista interminável.
Afinal, eles eram pais de três crianças, saudáveis e felizes.
O contato com um missionário recém chegado do Haiti lhes abriu as portas de uma nova vida.
Eles receberam Hélène, de 4 anos, em 1981. A pequena menina negra era cheia de vida e se uniu aos outros três filhos do casal.
Em seguida, um menino indiano, com seqüelas de poliomielite, chegou. Várias cirurgias depois, verificou-se que ele nunca voltaria a andar com suas próprias pernas.
Depois vieram os outros, do Brasil, da Colômbia, de Camarões, do Haiti.
Hoje, são 19 filhos. Onze adotados. Sete têm deficiências físicas ou mentais, ou ambas.
Todos os dias letivos, pouco depois das 4 da tarde, ônibus e carros chegam de variadas escolas e deixam 11 crianças na casa dos boldos.
Elas saem correndo, mancando ou rolando em cadeiras de rodas. Entram em casa para vasculharem a cozinha à procura de petiscos, procurando mãe e pai para darem um abraço.
O casal hoje beira os 40 anos. Os filhos mais velhos já têm suas vidas. Casados, com suas profissões, eles não perderam o contato com a família.
Christiane, a mãe, tem uma fórmula especial de definir a própria família: “ela foi construía pedra por pedra.
Uma criança era adotada, outra nascia. As que já estavam aqui achavam que essa era a ordem natural da vida.”
Ao longo desses anos, a família boldo criou na Bélgica uma fundação com o propósito de encontrar lares adotivos para crianças órfãs com deficiência.
Eles se deram conta que se eles eram capazes de criar uma criança deficiente, outros também poderiam ser.
Hoje, a média mensal da fundação é encontrar lares para uma ou duas crianças.
Tem 11 funcionários. Mas o melhor é o corpo de médicos, psiquiatras e fisioterapeutas – todos voluntários.
E o casal boldo está plenamente envolvido nesse trabalho.
Mas a família continua a ser o centro de suas vidas.
As crianças que lhes chegam estão feridas no espírito e no corpo.
Chegou uma criança abandonada em pleno carnaval, no Brasil. Um garoto com deficiência mental e defeito cardíaco inoperável, egresso da guerrilha na Colômbia.
Em 22 anos, os boldos já conduziram 410 crianças com deficiências, de 20 países diferentes, a lares de famílias belgas.
E dizer que tudo começou pela dolorosa perda de uma filha de apenas 3 meses de idade.