domingo, 31 de janeiro de 2010

UM SAPATO.... UM SORRISO

Eram 9 horas da manhã. Pedro acordou com os berros da mãe: “Acorda, menino. Você vai se atrasar!”.

Pedrinho, como era carinhosamente conhecido, saltou rapidamente da cama, abriu a janela e olhando para a rua, soltou um longo suspiro: “Meu Deus, é hoje!"

Era seu grande dia, seu aniversário de oito anos. Para você parece uma idade normal, não é mesmo? Oito anos. Mas não para Pedrinho.

Naquele dia ganharia seu primeiro sapato. Isso mesmo: seu primeiro sapato comprado numa loja. Até ali calçava somente sapatos de lona feitos por seu próprio pai, e no verão uma sandália de tira de couro, também artesanal.

Vestiu-se rapidamente, calçou sua velha sandália, comeu rapidamente e saiu de casa acompanhado de sua mãe.

Enquanto caminhava pela ruela estreita, seus pensamentos relembravam os dias na escola, onde era o único garoto que não usava um sapato “decente”, igual ao das outras pessoas.

Ele desejava muito usar um sapato daqueles, mas não entendia porque as pessoas davam tanta importância aos sapatos modernos e porque o tratavam com inferioridade: não sabiam que ele era um garoto legal?

Lembrou-se da garota mais bonita do colégio, aquela com quem ele sonhava e a quem ficava horas admirando, e que para ele era a menina mais bela do mundo. Lembrou também do dia que ela riu do seu sapato de lona e perguntou se ele não tinha vergonha. Vergonha de quê? Só porque era pobre? Naquele dia prometera que um dia as pessoas se orgulhariam dele. O dia em que um sapato não fosse o mais importante. Um dia que as pessoas calçariam o coração... E que os abraços e beijos seriam verdadeiras demonstrações de carinho, não apenas um ritual ou busca de um prazer simples e carnal. Um dia o amor seria o mais importante. E ele trabalharia para tornar isso real.

Chegou o grande momento... Ao entrar na loja um calafrio correu-lhe pela espinha. Nunca tinha visto tantos sapatos juntos. E eram tão lindos que pareciam não ser de verdade.

Nossa! E cheiravam tão bem... Queria muito ficar com o marrom, mas sua mãe falou que sujaria com muita facilidade, mas os pretos também não eram feios.

Cuidadosamente colocou os sapatos na caixa e saiu da loja com sua mãe. Iria para casa sozinho pois sua mãe iria visitar uma amiga.

Depois de ouvir as recomendações de praxe, para se cuidar e para cuidar do sapato novo, seguiu para casa.

Com a cabeça erguida e o coração batendo forte, naquele momento se sentia mais feliz, já tinha um sapato novo. Agora os colegas de colégio o tratariam com respeito.

Quando dobrou a esquina, algo lhe chamou a atenção. No fim da rua um menino quase do seu tamanho estava remexendo uma lata de lixo ao lado de uma padaria.

Não sabendo o porquê, aproximou-se do garoto. Quando estava chegando próximo, o dono da padaria saiu correndo atrás do menino, com uma vassoura na mão.

Pedrinho seguiu o garoto pelas ruelas, enquanto esse distanciava-se cada vez mais do centro. O garoto de repente parou em uma pequena construção, feita de restos de madeira, latas de óleo o papelão.

Pedrinho parou e tentou imaginar o que era aquele barraco. Uma casa não poderia ser, ninguém moraria em um local assim.

Chegando mais perto, espiando pela porta tomou um grande susto. Era uma casa! Ali havia uma mulher, o menino a quem seguira e outro um pouco maior. Os três estavam ao redor do menino recém-chegado, e juntos procuravam alimento na sacola que o garoto havia recolhido do lixo.

Quando notaram sua presença, convidaram-no a entrar. Pedrinho entrou entristecido, nunca vira gente tão pobre.

Os garotos olharam imediatamente para o embrulho que continha os sapatos novos. Apertando contra o peito, explicou que não se tratava de comida. O garoto menor chegou perto de Pedrinho e começou a admirar suas velhas sandálias de couro.

Olhando para os pés descalços do garoto, teve uma idéia: Poderia doar suas sandálias, o inverno estava começando e ele agora tinha os sapatos novos.

Sem pensar duas vezes, tirou as sandálias do pé e as entregou ao garoto, que rapidamente calçou-as e com lágrimas nos olhos abraçou Pedrinho, grandemente agradecido.

As lágrimas molharam sua face ao ver o garoto tão feliz com suas sandálias velhas. Sem que explicasse o porquê, sacou o embrulho, tirou os sapatos novos e os entregou ao outro garoto, que era quase do seu tamanho.

Rapidamente virou as costas e começou a correr como nunca antes havia corrido. Depois de alguns minutos, quase sem fôlego, parou em uma esquina, sentou na calçada e começou a chorar.

As lágrimas agora eram abundantes... Não soube quanto tempo ficou ali, somente chorando...

Não deu importância às expressões das pessoas que passaram por ali, olhando com desconfiança, alguns com compaixão, ao ver aquele garoto chorando.

Estava quase anoitecendo. Pedrinho resolveu então voltar para casa. Com a cabeça erguida e o coração batendo forte, entrou na rua que o levaria ao encontro da família, tendo a certeza que levaria uma grande surra, pois havia dado as velhas sandálias e os sapatos novos.

Mas tinha certeza que nenhuma surra apagaria o que estava sentindo.

Sabia também que nunca mais se deixaria influenciar pelo que as pessoas achavam dele, que o fato de não ter muito dinheiro não o tornava pior ou melhor do que ninguém.

Naquele momento era mais que um menino, era maior que o mundo, maior que as pessoas.

Sentiu-se perto de Deus, e o que é melhor, sentia-se feliz, realizado, sentia-se um homem!

Cristiano de Souza Marcello

O que acham do meu Naninha Cachorrinho?