sábado, 8 de janeiro de 2011

Os Xulingos

Era uma vez, um povo chamado xulingo.
Os xulingos eram pequenos seres, feitos de madeira.

Toda essa gente de madeira tinha sido feita por um
carpinteiro chamado Eli.
A oficina onde ele trabalhava ficava no alto de um morro,
de onde se avistava a aldeia dos xulingos.
Cada xilungo era diferente dos outros.
Uns tinham narizes bem grandes, outros tinham olhos
enormes.
Alguns eram altos, e outros bem baixinhos.
Uns usavam chapéus, outros usavam casacos.
Todos eles, porém, tinham sido feitos pelo mesmo carpinteiro e
moravam na mesma aldeia.

E o dia inteiro, todos os dias, os xulingos só faziam uma
coisa: colocavam adesivos uns nos outros.
Cada xulingo tinha uma caixinha com adesivos dourados,
em forma de estrela, e uma caixinha com adesivos cinzentos,
em forma de bola.

Em toda aldeia, indo e vindo pelas ruas, os xulingos
passavam dia após dia colando estrelas e bolas uns
nos outros.

Os mais bonitos, feitos de madeira lisa e tinta brilhante, s
empre ganhavam.
Mas, se a madeira era áspera ou se a tinta descascava, os xulingos colocavam bolas cinzentas.

Os xulingos que tinham algum talento também g
anhavam estrelas.
Alguns xulingos, porém, não sabiam fazer muita coisa.
Esses ganhavam bolinhas cinzentas.

Marcelino era um desses.
Ele tentava pular bem alto como os outros, mas sempre caia.
E, quando caia, os outros xulingos se juntavam à volta dele
e lhe davam bolinhas cinzentas.


Às vezes, quando caía, sua madeira ficava arranhada, e,
assim, os outros colavam mais bolinhas cinzentas nele.

Aí, quando ele tentava explicar porque tinha caído,
dizia alguma coisa do jeito errado, e os xulingos colocavam
mais bolinhas cinzentas nele.

Depois de algum tempo, Marcinelo tinha tantas bolinhas
que nem queria sair de casa.
Tinha medo de fazer alguma bobagem, porque os xulingos
iriam colar nele mais uma bolinha .

- Ele merece ficar coberto de bolinhas cinzentas – as pessoas
de madeira diziam umas às outras.
– Ele não é um bom xulingo.
Depois de algum tempo, Marcinelo começou a acreditar neles.
E vivia dizendo:
- Eu não sou um bom xulingo.

Certo dia, Marcinelo encontrou uma xulinga diferente de
todas que ele conhecia.
Ela não tinha nem estrelas nem bolinhas.
Só madeira.

O nome dela era Lúcia.
E não era porque outros xulingos não tentassem colar a
desivos em Lúcia.
É que os adesivos não ficavam.

É assim que eu quero ser, pensou Marcinelo.
Não quero ficar com as marcas de outras pessoas.
Então, ele perguntou à xulinga que não tinha adesivos como
é que ela conseguia ficar assim.

- É fácil – respondeu Lúcia – todo dia, vou visitar Eli.
- Eli?
-Sim, Eli, o carpinteiro. Fico lá na oficina com ele.
- Por quê?
- Por que você não descobre por si mesmo?
o morro.
Ele está lá em cima.
E, dizendo isso, a xulinga que não tinha adesivos virou e
foi embora, saltitando.

- Mas será que ele vai querer me ver? – gritou Marcinelo.
Lúcia não ouviu.

Assim Marcinelo foi para casa. sentou-se junto à janela
e observou toda aquela gente de madeira andando de um l
ado para outro, colando estrelas e bolinhas uns nos outros.

- Isso não é certo. – disse ele baixinho para si mesmo.
E decidiu ir ver Eli.

Marcinelo subiu pelo caminho estreito até o alto do morro
e entrou na enorme oficina.

Seus olhos de madeira se arregalaram com o tamanho
das coisas.
Ele engoliu em seco.
- Eu não fico aqui não! – e virou-se para ir embora.
Foi então que ouviu alguém dizer seu nome.
- Marcinelo? – a voz era profunda e forte.
Marcinelo parou.
- Marcinelo!
Que alegria ver você.
Chegue mais
Quero ver você bem de perto.

Marcinelo virou bem devagar e olhou para o enorme
carpinteiro.
- Você sabe o meu nome?
– perguntou o pequeno xulingo.
- É claro que sei.
Fui eu que fiz você.
Eli se curvou, levantou Marcinelo e o colocou sentado
no banco.
- Huummm! – disse pensativo o carpinteiro, olhando para
todas aquelas bolinhas cinzentas.

– Parece que você recebeu muitos adesivos ruins.
- Eu não queria que isso acontecesse, Eli,
eu me esforcei para ganhar estrelas.

- Você não precisa se defender comigo, amiguinho.
Eu não me importo com o que os outros xulingos pensam.
- Não?
- Não, e você também não precisa se importar.
Quem são eles para dar estrelas ou bolinhas?
São apenas xulingos como você.
O que eles pensam, não importa, Marcinelo.

A única coisa que importa é o que eu penso.
E eu penso que você é muito especial.

Marcinelo deu uma risada.
- Eu, especial?
Por que?
Não sei correr.
Não consigo pular.
Minha tinta está descascando.
Por que eu seria importante para você?

Eli olhou para Marcinelo, colocou suas mãos enormes
naqueles pequenos ombros de madeira,
e disse bem devagarinho:

- Porque você é meu. Por isso, você é importante para mim.

Nunca ninguém havia olhado assim para Marcinelo
– Muito menos o seu Criador.
Ele nem sabia o que dizer.
- Todo dia, tenho esperado a sua visita – explicou Eli.
– Eu vim porque encontrei alguém que não tinha marcas.
– Disse Marcinelo.
- Eu sei. Ela me falou sobre você.
- Por que os adesivos não colam nela?
O criador dos xulingos falou bem mansinho:

- Porque ela decidiu que o que eu penso é mais importante
do que o que eles pensam.
Os adesivos só colam se você deixar que colem.
- O quê?
- Os adesivos só colam se eles forem importantes para você.

Quanto mais você confiar no meu amor, menos vai se
importar com os adesivos dos xulingos.
- Acho que não estou entendendo.
Eli sorriu e disse:
- Você vai entender, mas levará tempo.
Você tem muitos adesivos.

Por enquanto, basta vir me visitar todo dia,
e eu lhe direi como você é importante para mim.

- Eli ergueu Marcinelo do banco e o colocou no chão.
- Lembre-se – disse Eli quando o xulingo saía pela porta,

- Você é especial porque eu o fiz.
E eu não cometo erros.

Marcinelo nem parou, mas lá no fundo de seu coração
pensou:

acho que ele realmente se importa comigo.

E, quando ele pensou assim,
uma bolinha cinzenta caiu ao chão.

O que acham do meu Naninha Cachorrinho?